Doroteia, de Nelson Rodrigues
As quatro peças que integram o ciclo mítico de Nelson Rodrigues têm em comum o descolamento de tempo e espaço identificáveis. Apesar de elementos reconhecíveis como integrantes de uma sociedade historicamente determinada, o que nelas predomina são o essencial e o primitivo, de tal maneira que podem receber indistintamente a roupagem de culturas distantes ou a de um minimalismo que realce seu caráter arquetípico. Doroteia, “farsa irresponsável em três atos” que remonta a 1950, encerra o ciclo mítico promovendo um descolamento radical de tempo e espaço ao abolir as fronteiras da realidade, flertar com o surrealismo e, na visão de alguns, trazer para o palco o plano do inconsciente, assim como Vestido de Noiva fizera antes dela. O feminino, tão presente nas peças do dramaturgo, aqui é apresentado de forma igualmente radical, por meio da abolição completa das personagens masculinas. Mesmo a expressividade da face humana é radicalizada na sua cristalização em máscaras. O resultado é u...