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Mostrando postagens de abril, 2020

A Peste, de Albert Camus

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Desde que a editora Record passou a relançar as obras de Albert Camus com novo projeto gráfico, venho acumulando seus livros sem no entanto dar-lhes atenção. Fizera uma tentativa com O Homem Revoltado, mas desanimei no meio do caminho, não porque fosse ruim, e sim porque estava indisposto naquele momento a seguir, do princípio ao fim, o longo raciocínio filosófico que o autor desenvolvia. Nessa quarentena, contudo, vi-me estimulado a tentar novamente uma aproximação, desta vez pela via da ficção e do não mais do que óbvio A Peste. De fato, escolher A Peste como leitura neste momento foi, da minha parte, uma escolha clichê. Foi também uma escolha imbuída de certa hesitação, pois talvez não fosse o momento mais adequado para aprofundar a tensão já existente com um tema tão lúgubre por força da sua atualidade. Segui em frente, e não me arrependo de o ter feito. A leitura d’A Peste em plena pandemia do coronavírus é talvez uma oportunidade única para dar expressão não só literári

Seis Mil Anos de Pão, de Heinrich Eduard Jacob*

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Desse modo, seria pertinente dizer que o essencial para Jacob passa por devolver ao mundo e ao homem o ethos do seu relacionamento com as coisas, ou, com mais rigor, o ethos das coisas que, ao serem revitalizadas na estética da “Sachbuch”, deixam de fato de ser meras “coisas”. E, deixando de ser apenas “coisas”, passam a ser o quê? Passam a ter história própria, em vez de serem meros pretextos ou objetos de manipulação dentro de uma história dos homens que tudo antropomorfiza, passam a ter biografia, passam a ter um destino próprio. E, se assim é, passam também à condição de personagens de narrativas paradigmáticas, nas quais o destino dos homens se joga não em função das deliberações da sua racionalidade, apontada à dominação das coisas, mas precisamente em função de uma lógica da resistência das coisas à racionalidade humana. Em analogia com o que sucedia com o mito antigo, em que o destino dos homens é precisamente a resistência implacável que o acontecer oferece à vontade human