Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski

Imagem
  Vê-se com angústia que nem mesmo Dostoiévski - na última obra e depois de uma vida romanesca e inúmeras peças literárias dedicadas a perscrutar os desvãos da alma humana -, tenha conseguido chegar a uma resposta conclusiva, uma solução de compromisso que permita viver com tranquilidade e sem incertezas diante das grandes questões da existência. Defrontado pelos impasses do seu tempo - no fundo, os mesmos de antanho e do porvir -, o grande escritor russo não se furta a insinuar soluções e propor caminhos, porém sempre desconfiado do que diz e ainda perplexo quanto ao que se conserva infenso a qualquer elaboração verbal. Pinta alegremente a luz, mas sem deixar de carregar nas tintas das sombras circundantes, onde se esconde o incógnito. Expressa-se como quem diz que é humanamente possível apenas a aproximação do mistério do bem e do mal, que a fruta comida no Éden não bastou, e que só a misericórdia que tudo perdoa e esquece pode compor um quadro harmônico, borrando as margens do clar

Autobiografia: o mundo de ontem, de Stefan Zweig

Imagem
“ Mas a nossa geração aprendeu a fundo a boa arte de não lamentar o passado, e, quem sabe, a perda de documentos e detalhes possa vir a significar um ganho para este meu livro. Pois eu considero nossa memória um elemento que não conserva casualmente um ou perde outro, mas sim uma força que ordena cientemente e exclui com sabedoria. Tudo o que esquecemos de nossas próprias vidas, na verdade, já foi sentenciado a ser esquecido há muito tempo por um instinto superior. Só aquilo que eu quero conservar tem direito de ser conservado para outros. Portanto, recordações, falem e escolham no meu lugar, e forneçam ao menos um reflexo da minha vida antes que ela submerja nas trevas! ” [Do prólogo - p. 18.] Errante pelo mundo, distante do que lhe foi familiar, confrontado pelo futuro que se apresenta como brumas e estampidos brutos, Stefan Zweig se encontra nu no tempo e no espaço, capaz de se apoiar tão somente no que a memória lhe legou, matéria que, sem sua voz, periga se perder para sempre nas