Ópera dos Mortos, de Autran Dourado

Numa pequena cidade do interior mineiro, o casarão se ergue soturno e enigmático; é símbolo do que poderia ter sido e não foi, o extravagante gesto ancestral que, não obstante, restou detido no tempo sem se completar. Conquanto incompleta, a grandeza esboçada parece bastar para entreter a conversa miúda de toda gente, articular-lhe os sentidos e afetos rumo a uma possível unidade superior; mas por algum tempo apenas. Em Ópera dos Mortos, Autran Dourado nos apresenta as impressões deixadas na pequena cidade pela família Honório Cota, vocacionada pelas circunstâncias à proeminência local, e no entanto malograda nessa missão em virtude do desregramento dos representantes de três gerações, cada um a seu modo incapaz de corresponder aos anseios do entorno, e de ombrear a imponência e respeito inspirados pelos muros do casarão onde habitam. Lucas Procópio, patriarca da família, impôs-se à força no lugar, ao mesmo tempo inaugurando a história local e esgarçando os nervos dos concidadãos media...