Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski

Vê-se com angústia que nem mesmo Dostoiévski - na última obra e depois de uma vida romanesca e inúmeras peças literárias dedicadas a perscrutar os desvãos da alma humana -, tenha conseguido chegar a uma resposta conclusiva, uma solução de compromisso que permita viver com tranquilidade e sem incertezas diante das grandes questões da existência. Defrontado pelos impasses do seu tempo - no fundo, os mesmos de antanho e do porvir -, o grande escritor russo não se furta a insinuar soluções e propor caminhos, porém sempre desconfiado do que diz e ainda perplexo quanto ao que se conserva infenso a qualquer elaboração verbal. Pinta alegremente a luz, mas sem deixar de carregar nas tintas das sombras circundantes, onde se esconde o incógnito. Expressa-se como quem diz que é humanamente possível apenas a aproximação do mistério do bem e do mal, que a fruta comida no Éden não bastou, e que só a misericórdia que tudo perdoa e esquece pode compor um quadro harmônico, borrando as margens do ...